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Talvez o Maestro seja o único a entender a voz dele. A voz dele era sublime, e é da garganta do meu irmão que fluía a minha música. Quando é que ele caiu do cavalo? Ele nunca caiu do cavalo. Aquando da morte do nosso pai, o Carlo ficou gravemente doente. O meu pai tinhamo confiado. Ele delirava. Tinha medo de o perder. Acalmeio com um pouco de ópio. e pela recitação de uma ópera, que eu inventava dia após dia, para o fazer sonhar. Ele gostava de cantar, Maestro. Ele gostava de cantar. O rosto dele. O rosto dele transfiguravase quando cantava. Havia que salvaguardar esta voz de anjo. Era preciso apressarmonos, O efeito do ópio não dura para sempre. Era preciso impedir que a sua voz fosse arruinada, pela repugnante alquimia que o tempo exerce sobre os corpos. A minha música uniunos, Maestro, mais do que as amantes. Estais consciente do escândalo que provocaremos? Uma ópera de Haendel no Teatro da Nobreza! Nunca se viu tal! Incrível! Como teve ele a fraqueza de consentir isto? Por fim, Farinelli, o que nos opõe depois de tantos anos, termina esta noite. É tempo de prestar contas a Deus. Recordaivos daquela ópera que o vosso irmão vos prometeu, quando éreis criança? Recordaivos, Farinelli, da emoção com que ele a contava? Já alguma vez vos perguntasteis se era para acalmar a dor da vossa castração, ou para acalmar os gritos da sua consciência? É tempo de enfrentardes essa realidade que vos obceca desde a infância. Porquê recusardes aquilo que sabeis desde sempre? Foi o vosso irmão que vos fez castrar, a quem dedicasteis o vosso talento, e foi para consagrar este par fraternal, que vós cuspisteis na cara de Haendel. Haveis conseguido fazer de mim o que vós haveis sido sempre. Vós castrasteis a minha imaginação. E a partir de agora jamais voltarei a compor óperas. Nunca mais! Sois o primeiro a sabêlo. E o único responsável. Rogai a Deus que Ele vos dê a sorte de prosseguirdes, e de cantar sem falhas a música que me haveis roubado. Farinelli. Um Deus! Um Farinelli! Um Deus! Um Farinelli! Um Deus! Um Farinelli! Um Deus! Um Farinelli! Carlo! Vem cá! Carlo! Vem cá fora! Deixame verte, Carlo!
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