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Esquece a minha voz! Não posso. Sabes bem que não posso. Prometi ao nosso pai. É tempo de pensar na música. É preciso tocar no coração, elevar as boas emoções. É essencial. Quero que a tua música faça vibrar esta parte infinita, que dorme no seu fundo. É isto que eu te peço Riccardo. Que ingratidão. E Orfeu? Orfeu? Orfeu não existe. Não chegarás a dála à luz. Não é inspiração que me falta, Carlo. O que me falta é tempo! Tu tomalo todo, Carlo. Tu tomalo todo! Levantaivos, Sr. Farinelli. Permiti que o Príncipe de Gales vos preste homenagem. O Teatro da Nobreza ficarvosá eternamente reconhecido por haverdes salvado a sua honra e com ela a honra da nobreza deste país. A minha voz está ao serviço da música, Senhor. A vossa voz, Sr. Farinelli, reúne o público mais esclarecido. E, apesar do apoio de Sua Majestade, arrebata a Haendel os seus últimos espectadores. Nada que nos desagrade! Parece que o pobre Maestro Haendel está a queimar as pestanas. Que regresse à Saxónia. Que quereis dizer com isso, Senhor? Estas óperas que Haendel compõe em três semanas, não são dignas do estilo do seu público. De onde vêm essas calúnias? Correm rumores. Rumores que vós vos rebaixais a propagar, senhor. Ouvisteis as suas obras, Senhor? Não falais a sério, Senhora. Isso seria uma traição. Nós não frequentamos Covent Garden. Eu já as ouvi. São mais belas do que tudo o que havia antes. Não imagino que as obras de Haendel superem em beleza as do Maestro Porpora ou do Sr. Riccardo Broschi. Sois um asno senhor. Não merecíeis ter ouvidos! Quando a posteridade tiver perdido a própria memória da vossa existência conservará o nome de Haendel, com um infinito respeito. Não compreendeis que a vossa suficiência é um insulto a todos os músicos! Gostaria de apagar da minha memória esse dia maldito em que cantei para vós. Fazeis batota, Carlo. Sempre fez batota. Ele não suporta perder. Eu também não. Mas não faço batota. Fui eu quem ensinou Carlo Broschi a cantar. Não deveis esquecer que fui o vosso Maestro. Não acrescenteis outra ingratidão à vossa insolência. Dizei qualquer coisa. O que lhe vai na cabeça?
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