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Não façais da minha voz um instrumento de morte. Não me meteis medo! Todos sabem que Farinelli cultiva a sua lenda. Continuai a massacrar os vossos ouvidos com óperas estúpidas povoadas de personagens grotescas. É ele, Alexandra? É ele, de facto. Visteis, Carlo? Estou contente. O meu corpo não se recusa a crescer. Sofreis, Infante? Não são propriamente as dores, apenas um sentimento de intensa fragilidade. Como o de um caracol privado da sua concha. A Alexandra tem as mãos mais doces do mundo, mas não permitirei a mais ninguém que delas desfrute. É maravilhosa. Vistame, rápido. Não podemos fazer nada, Alexandra Mas, contudo uma coisa é certa. Vós amaisnos, não é verdade? Onde está a minha partitura? Dizeime onde é que o vosso irmão guarda a ópera que me roubou? Dizeime. Depois deixarvosei em paz como um rato no vosso celeiro. Ladrões! Vós haveisme roubado o meu irmão, Maestro. A vossa música separounos mais do que todos os oceanos. Quem compôs isto? Tocai. Tocai então. Nem excessos, nem ornamentos supérfluos. Nem parece vosso. É uma súplica, senhor. É preciso mudar a harmonia. Levar esta imploração sobre a dominante. Levantese. Levantese! Depois da terça superior, retomar o motivo na quarta. O vosso irmão é um monstro. Tocai. Tocai então. Isto está fraco. Falta violência. Esperai. É necessário preencher o acorde e usar o cromatismo do ré bemol. Nada mal. Nada mal, de todo! Por quem se toma ele? Por Deus? Ele está a destruirvos, e quer destruirme a mim também. Trazeime o resto. A tinta, as canetas. e vinho. Porque esperais? Quando contais terminála? Quando a começasteis? Quando? No dia. No dia em que o meu irmão foi castrado. Naquele dia prometilhe que esta seria a obra da nossa vida. Nunca terminareis esta ópera. Nunca! Não tendes nenhum motivo para a terminar. Ele já não precisa de vós. Sois vós que precisais dele. Eisvos privado do vosso instrumento, Sr. Broschi. Sois como Narciso sem o seu reflexo. Como Orfeu sem a sua lira. Tendes razão, Maestro. Sem ele, a vossa música não tem existência. Sem ele, não sois mais que silêncio. Aos anos, compus a minha primeira melodia. Escrevia para o Carlo.
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